VÍDEO: Santa Maria sedia dois dos 13 locais de assistência à saúde trans no Rio Grande do Sul

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Foto: Marcelo Oliveira (Especial)/

O Janeiro Lilás traz à tona diálogos e reflexões sobre diversos pautas, inclusive a saúde das pessoas trans. Em Santa Maria, o primeiro mês também é sinônimo de conquistas com a ampliação de serviços 100% para pessoas trans. Em 2020, foi inaugurado o Transcender, primeiro local via SUS. E agora, em 2022, a Casa de Saúde passou a ter um local de referência, acolhimento e atendimento especializado.

TRANSCENDER: UMA PORTA DE ENTRADA

Em janeiro de 2020, o ambulatório Transcender começou as atividades na Policlínica do Rosário, em Santa Maria. Antes do início da pandemia, em março, cerca de 40 pessoas eram atendidas no espaço. O psicólogo do ambulatório Transcender, César Bridi Filho, explica que, no início de 2021, as atividades foram retomadas por uma nova equipe para auxiliar a população, e em outubro do mesmo ano, o ambulatório passou a ser destinado a comunidade LGBTQI+, além de ofertar o processo transexualizador.

No janeiro lilás, pessoas trans compartilham experiências sobre saúde e acolhimento em Santa Maria

A partir de cinco frentes de trabalho (criança, adolescente, adulto, famílias e equipes), o ambulatório tem buscado auxiliar, mas acima de tudo, mapear a presença da comunidade trans no município para o acompanhamento necessário.

-A primeira pergunta que se faz quando se vai criar um serviço específico é 'qual o tamanho da população?'. E essa é uma resposta, por exemplo, que a comunidade trans são tem. Não sabemos quantos trans vivem na cidade, porque não aparece em nenhum lugar. Nem em Censo do IBGE. E nós sabemos que essa população pouco acesso à rede de saúde. Então, um dos objetivos do ambulatório é identificar essa população e também as necessidades. Não só em termos de saúde, mas também sociais, educacionais e em uma série de outras coisas - diz César.

César reforça que, a partir do contato com o Transcender, uma pessoa trans pode ser encaminhada, por exemplo, para outras unidades de saúde, hospitais e também para o ambulatório transexualizador da Casa de Saúde.

- O fluxo para ir para a Casa de Saúde precisa passar pelo ambulatório. Isso ficou regulamentado. Então, mesmo quem já faz o hormônio e quer rever porque vai precisar de endócrino deve vir. Aqui se faz uma entrevista inicial, identificamos a necessidade e encaminhamos - explica.

Ambulatório Transceder, no Bairro Rosário, é a porta de entrada para o atendimento pelo SUS

SERVIÇO

• Se você é uma pessoa LGBTQI+ (lésbica, gay, bissexual, transexual, travesti ou transgênero, queer, intersexual ou dos demais grupos) e precisa de assistência, entre em contato com o ambulatório Transcender de segunda a sexta-feira, no turno da manhã, pelo telefone (55) 3921-1094
• Caso queira marcar presencialmente, não é necessário levar documento. Apenas informar o nome
• O ambulatório Transcender está localizado na Policlínica do Rosário, na Rua Serafim Valandro, 400, no Bairro Nossa Senhora do Rosário

NA CASA DE SAÚDE, MAIS UM ESPAÇO CONQUISTADO

No final de dezembro de 2021, com recursos estaduais do programa Assistir, a Casa de Saúde inaugurou o primeiro ambulatório especializado em atendimento clínico e psicossocial de pessoas que queiram fazer a transição de gênero com tratamento hormonal no interior do Estado.

Antes de prestar assistência, a equipe composta por 13 funcionários, além médicos endocrinologista, psiquiatra, clínico-geral, urologista, ginecologista, psicólogo, fonoaudiólogo, assistente social e enfermeiros, passou por uma capacitação nos meses de outubro, novembro e dezembro.

A administradora da Casa de Saúde, Ariele Pereira, argumenta, que mesmo em fase inicial, a expectativa para o ambulatório no município é boa na visão da equipe.

- Nós estamos bem otimistas com relação aos atendimentos. Nós treinamos e capacitamos nossas equipes para atendermos a este público da melhor forma possível - afirma.

Desde o dia 10, o ambulatório já atende 29 pacientes. Mensalmente, o local irá ofertar 240 consultas para Santa Maria e mais 32 municípios da Região Central. O psicólogo da Casa de Saúde, Thadeu de Oliveira Lucca, 29, explica que a ideia vai além da assistência. Envolve criar um local seguro para essa população.

-Parece uma ironia falarmos sobre cuidado humanizado sendo que estamos lidando com seres humanos. Ainda temos que falar sobre o cuidado humanizado e quanto essa população precisa disso. Então, o ambulatório vem com esse objetivo. Estamos aqui em um serviço 100% SUS, que fala sobre os princípios da universalidade, integralidade, equidade. É bizarro imaginar que há uma população que não tenha acesso a esse serviço por questões de preconceito e julgamento. Mas, o ambulatório trans vem justamente para fortalecer essa população e fazer com que tenham sim garantias ao direito à saúde - comenta.

O profissional ainda ressalta a importância de enxergar além dos relatórios, trazendo para o acompanhamento momentos de diálogo sobre questões familiares, rede de apoio, sociedade e outros assuntos. Ao contrário do que muitos pensam, o trabalho da psicologia ou da psiquiatria no processo não terá como função anular decisões.

-Nem a psicologia e nem a psiquiatria vão dizer "Você não vai seguir esse acompanhamento". Essa é uma decisão da pessoa que vem buscar o serviço. O nosso objetivo aqui é fazer esse acompanhamento. Trazer para a realidade, conversar, fazer os apontamentos necessários e mostrar mais sobre toda a complexidade que é fazer esta transição, seja para se tornar um homem ou uma mulher - reforça Thadeu, destaca que a terapia proporcionará momentos de descoberta que devem ser compartilhados, principalmente, com os profissionais.

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CONQUISTAS

Para a presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais, Keila Simpson Sousa, mesmo que consideradas poucas, as políticas de saúde conquistadas pela população trans são um avanço significativo em uma longa luta por acesso.

Ela explica, que nos anos 90, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) era a porta de entrada de pessoas trans em sistemas de saúde. Atualmente, graças a uma política integral de saúde LBGT, essa população pode utilizar o serviço com outras finalidades.

- Obviamente ainda temos muitas necessidades, porque os ambulatórios ainda são bem poucos e os hospitais menos ainda. Mas, se pensar que não tínhamos nada disso, já se mostra importante ter essa condição para a saúde LBGT, esses espaços que estão surgindo agora e uma ampliação nos serviços - afirma Keila.

SERVIÇO

• Em Santa Maria, o encaminhamento para o ambulatório transexualizador da Casa de Saúde é feito via Transcender.
• No caso de atendidos de fora, será necessário fazer a solicitação em unidades de saúde (UBS) ou em secretaria de Saúde, para que o pedido seja enviado para SISREG (Sistema Nacional de Regulação).

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Marcelo Oliveira (Especial)

SAÚDE EM DADOS*

RIO GRANDE DO SUL

• 13 pontos de atenção à saúde de pessoas trans
• 1 hospital habilitado para cirurgias de redesignação sexual, o Hospital de Clínicas
• De 2008 a 2021 foram 206 procedimentos relativos ao processo transexualizador.

Veja a ordem dos cirurgias mais realizadas entre 2008 e 2021:

• Redesignação sexual no sexo masculino - 139
• Cirurgias complementares de redesignação sexual - 25
• Histerectomia c/ anectomia bilateral e colpectomia sobre processo transexualizador - 13
• Mastectomia simples bilateral - 3
• Plastica mamaria reconstrutiva bilateral incluindo prótese mamária de silicone bilateral - 23
• Tireoplastia - 3

*com informações da Assessoria de Imprensa da Secretaria de Saúde do Estado

BRASIL

• 5 hospitais habilitados para atendimento ambulatorial e hospitalar
• Localizados nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Goiás e Rio Grande do Sul